O Ceramista em ação - O trabalho do ceramista


Texto de Robin Hopper - British Columbia, Canadá.

Capítulo 1
As raízes são a parte da planta que permanece oculta. Fixando-se no solo retirando dele o alimento e armazenando-o. Raízes também é palavra que se refere aos nossos ancestrais, aquelels que vieram antes. Para muitos ceramistas ambos significados tem grande validade. Como artistas e artesãos, todos viemos de algum lugar e as múltiplas experiências que nos tocaram emocionalmente tornam-se parte da rede estrutural que nos leva a fazer o que fazemos, alimentando-a.

Uma das primeiras coisas que nos devemos dar conta na rede estrutural de um ceramista é que fazer cerâmica utilitária é uma disciplina rigorosa que demanda esforços constantes e contínuos para que possa crescer e desnvolver-se. Há poucos atalhos. O desenvolvimento se dá através da vida; algumas vezes a largos passos; outras, com movimentos quase imperceptíveis. É, provavelmente, o mais frustante dos ofícios de arte, sendo uma combinação de arte e ciência, escultura e pintura, forma e superfície, função e uso.


Capítulo 2
Para sobreviver como ceramista é preciso ser artista, negociante, carpinteiro, operário, químico, técnico, piromaníaco, bombeiro, artesão e inovador, tudo ao mesmo tempo - é preciso ser , afinal, uma pessoa perfeitamente prática. Fazer cerâmica é um ofício que , uma vez bem estabelecido, é como um vício - é quase impossível ver-se livre dele. Ao mesmo tempo, pode ser sedutor, sensual e tão hedonisticamente satisfatório que, às vezes até nos induz ao sentimento de culpa. A alegria de fazer objetos úteis, agradáveis aos sentidos, que emergindo do barro inerte e sem forma é difícil  de ser adequadamente descrita. Aqueles que trabalham bem a cerâmica não são bem sucedidos financeiramente da forma como o sucesso é medido nesta sociedade orientada para o dinheiro. Mas se olharmos fora e nos detivermos na qualidade de vida global eles são mais ricos do que se pode imaginar. Mas, contas feitas, não há nada na vida que tenha me dado tanta satisfação como o exercício da cerâmica. Muitos ceramistas que conheço em várias partes do mundo, não trocariam voluntariamente sua vocação por qualquer outra.


Capítulo 3

Países relativamente novos como Canadá, Austrália, África do Sul, Estados Unidos, têm pouca tradição na área da cerâmica. O perfil das sociedades que formam esses países é um amálgama de diferentes grupos étnicos e culturais provenientes de várias partes do mundo. Durante o período da colonização, pouco tempo era dedicado às amenidades da vida, tais como a arte. A própria vida era um processo de sobrevivência e neste processo as artes tinham um lugar de pouca importância imediata. O resultado evidente de muitas gerações com experiência limitada das artes, tende a ser um estado de penúria cultural e consequentemente procura por uma identidade individual - a confiança no indivíduo como suas únicas raízes. Há uma enorme diferença neste sentido, nos países do Oriente, da Europa, do Oriente Médio, nos países Islâmicos, onde tem havido tradições cerâmicas contínuas há milhares de anos. É como uma planta de enormes raízes profundas, com crescimento estável e floração intermitente.

O ceramista contemporâneo nos países novos frequentemente se sente desenraizado e perdido na procura de inspiração significativa e crescimento pessoal. É bombardeado com estímulos visuais através de livros, revistas, TV, etc., de tal forma que a excessiva confusão dos sentidostende a impedir uma visão clara das direções que deve tomar. No cômputo final o que sobra deste bombardeamento é frequentemente a imersão em culturas exóticas e estranhas como fontes de estímulos, em lugar do crescimento natural  proveniente de coisas do ambiente do ceramista, experiência e necessidades locais. Em certo sentido, este sentimento de falta de raízes é saudável e força o ceramista a avaliar a si próprio e tomar decisões baseadas em sua própria estética. Isto é, particularmente, o que acontece com as pessoas que possuem forte identidade individual. Para outros esta falta de raízes pode conduzir à dependência do ecletismo, pinçando pequenas porções de vários lugares e fazendo delas um sanduíche com pouco conhecimento ou consideração a propósito de relevância ou origem.

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